Histórias são formas de construir-se no outro

Qual é a lembrança mais antiga que você tem da sua infância? É muito importante para as crianças viverem experiências que marquem suas memórias desde a mais tenra idade. A lembrança é afetiva e lembramos aquilo que mexe com a gente. Memórias são produzidas por histórias ricas em cheiros, sons, imagens e afetos. No futuro, elas vão fazer sentido e dar contornos às experiências da vida adulta. Apesar de complexo, criar memórias com os pequenos é fácil e, sobretudo, delicioso. Por isso, comecei a contar e depois a escrever histórias para crianças.

Minha imaginação foi aguçada no quintal da minha infância ouvindo histórias, seguindo rastros de vaga-lumes na mata-ciliar do riacho que passava no quintal da casa dos meus pais. Conhecer a diversidade das naturezas foi a minha primeira experiência com a alteridade. Aprendi a me colocar no lugar do “outro” real e também imaginário como um processo cognitivo de aprendizagem. As personagens ilustradas nos livros infantis ampliaram ainda mais esse universo do fantástico.

O livro Lulu & Didi: dois amigos diferentes traz uma história desse tempo. Um tempo que  encantou-me, divertiu-me e ensinou-me valores como a amizade e o respeito à diferença. A estrelinha Lulu pensa que o riacho é um pedaço de céu e o vaga-lume Didi pensa que o céu é um pedaço de riacho. Eles descobrem que as coisas são bem diferentes. E que a diferença pode ser uma oportunidade para se fazer grandes descobertas sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre o outro.

A alteridade é para Mia Couto, a magia de sermos nós, sendo outros. Esses “outros” não se referem apenas a pessoas, mas também aos lugares que habitam, à escuta de seus processos sociais, suas tradições, enfim as vidas que neles são vividas.

E é exatamente disso que fala o segundo livro infantil “Um riacho, dois cascudos e vários amigos diferentes”. Trata-se da história de um lugar, de uma natureza que carrega sentidos de amizade, de juntar forças para salvar vidas de um curso d’água. A menina Júlia, o cascudo Vavá, o vaga-lume Didi e outras personagens se juntam para enfrentar o monstro seboso do riacho. Nesse processo de luta coletiva, em vez de Era uma vez, a história do riacho passa a ser contada com Será uma vez … um riacho de águas cristalinas, onde a menina Júlia observa peixes e vaga-lumes brincando de esconde-esconde nas matas ciliares dos córregos que banham sua cidade natal.

Luzia Costa Becker

Luzia Costa Becker

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